Já vou logo avisando: quem veio à essa página esperando ver episódios perdidos que envolva “cenas assustadoras” com "hiper-realísticas tomadas do cadáver de um garoto”, um episódio perdido que nem mesmo o criador do programa sabe que existe… esse não é o texto que procura. Antes, porém, de escrever o episódio, seria interessante vocês saberem um pouco da história deste episódio. Bem, acho que vocês já devem conhecer o desenho chamado de “O Incrível Mundo de Gumball” (The Amazing World of Gumball, no original), um desenho bem recente do Cartoon Network. Sendo do Cartoon Network, você não espera um desenho com temas muito adultos, como são South Park, Family Guy, e os Simpsons. Bem, esse é o novo Gumball. Acontece que antes de o programa ficar assim, o criador do desenho (Ben Bocquelet) imaginava roteiros bem próximos ao dos desenhos citados acima. Antes de lançarem o piloto, Bocquelet e a equipe reunida por ele para produzir os primeiros episódios, já haviam escrito diversos Storyboards. São esses os tais "episódios perdidos”. Nada mais do que exemplares de um "Incrível Mundo de Gumball” que, por razões que desconheço, nunca chegaram à TV, dando espaço à uma versão mais familiar do desenho. Mas o que tenho a ver com isso? Um amigo meu (o qual chamarei de Paul) integrava essa equipe de edição. Na verdade, o nome dele era Paulo, mas na hora de pronunciar esse termo, todos da equipe, por não estarem acostumados ao Português, o chamavam de Paul, que ele acabou adotando como “nome artístico". Como éramos amigos bem próximos, ele me confiou exemplares dos storyboards que ele e a equipe produzira. Ele me disse que era só o que tinham sido feitos sobre os episódios, agora se um vídeo de verdade chegou a ser produzido isso eu não sei. Ele disse que não, mas ele não é conhecido como o “Paul, O Honesto”. De qualquer forma, tudo que eu tenho são os storyboards, mas eu garanti a ele que não botaria nenhuma foto deles na internet. Mas como não garanti nada sobre transcrever suas histórias...
O Episódio
O episódio começa com os Wattersons (a família principal do programa) andando de carro por uma floresta à noite. Não havia qualquer sinal de civilização por perto, exceto, a estrada em que eles estavam dirigindo. Não havia nenhum carro à mais passando pela estrada. Eis que descobrimos o porquê de eles estarem ali: Richard, o coelho rosado e gigante, havia seguido as indicações de um mapa astral achando que fosse o mapa da estrada (há o uso de humor nos episódios).
Antes que perguntem, sim, Richard é tão idiota quanto Homer Simpson. Os Wattersons, oficialmente perdidos na floresta, não sabem o que fazer, até Nicole (a mãe)sugerir procurar uma cidade onde possam passar a noite, que todos concordam ser o melhor a se fazer. Todos exceto Darwin (o peixe), que sugeriu trocar de pai. Seria outro momento de humor normal, mas aí você já vê a diferença: no desenho da TV, Darwin é um bom rapaz, ele nunca, por mais anta que fosse, diria algo do tipo.
Continuando a “viagem”, os Wattersons logo avistam sinal de civilização ao longe, uma pequena cidade, destas cidades do interior americanas, apenas casas, nenhuma estrutura que tivesse mais de dois andares. Caminhando um pouco pela cidade, minúscula por sinal, eles encontram uma pousada para passar a noite, ou as noites, já que aquele povoado parecia estar à quilômetros de qualquer outra cidade. Ao entrarem na pousada, eles se deparam com a recepcionista, uma senhora idosa. Mas o que mais me chamou a atenção: ela era uma humana!
Em todos os episódios de “O Incrível Mundo de Gumball”, a gente se depara com bananas falantes, gatos falantes, frutas falantes, tem até um amendoim com pernas falante, pra você ter uma ideia. Mas a coisa mais próxima de um ser humano era uma personagem que era um queixo virado de ponta cabeça, filmado em Live Action. Nicole, logo após conseguir um quarto para toda a família, conta a história que a família passou, e pergunta se ela pode ajudar. A velhinha disse que seria difícil arranjar ajuda, não é costume eles receberem visitantes por ali. Gumball, o personagem central, pergunta então por que ela havia aberto uma pousada, se nunca recebia turistas por lá.
Antes que ela pudesse responder, Richard interrompe, dizendo que havia visto alguém na janela da pousada, que fica bem ao lado da porta de entrada. A velhinha diz que não era ninguém, e mostra à família o quarto deles, que era apenas uma única cama de casal, sendo que há cinco pessoas, e Richard sozinho já ocupava meia cama. A atendente disse que era o único quarto que eles poderiam alugar, pois era o único quarto da pensão. Sem alternativas, eles decidem ficar por ali. Nesse momento, Anais (a coelhinha pequena) espirra. A atendente se aproxima dela,balbuciando e falando feito um macaco (do mesmo jeito quando alguém vai falar com um bebê filho recém-nascido), perguntando se "alguém não estaria gripado”. Gumball diz que não é uma gripe, e sim uma doença cujo nome não consigo me lembrar agora. Aparentemente, essa doença não tinha nada de mais, mas ao ouvir qual era o problema com Anais, a idosa parece ter ficado bastante assustada. Forçando um sorriso de que estava tudo bem, ela pergunta se eles não querem comer alguma coisa, depois de horas na estrada. Todos vão ao restaurante, exceto Anais que estava muito cansada, e prefere ficar por lá. Na saída do quarto, a atendente pisa em cima de um tecido e pergunta o que é. Darwin fala que é o pijama da Anais, causando certo estranhamento na velha, visto que segundo ela, "até um preservativo tinha mais tecido que aquilo”.
Com Anais dormindo, e eventualmente espirrando no quarto, o restante da família desce até o saguão. Na verdade, o “restaurante” ficava no mesmo lugar do balcão de atendimentos e da porta principal. E era BEM pequeno, diga-se de passagem, mas na verdade, toda a pousada era minúscula. Logo a velha chega com o prato do dia, a qual ela batizou de “Sopa Surpresa”. A cara não era das melhores, e houve certa relutância de todos em comer a sopa, e ver que surpresa ela trazia. Até que Richard finalmente toma uma colherada,e aprova a sopa. Logo, todos acabam tomando e gostando do sabor. Até que, de repente todos caem de sono. Enquanto isso, no quarto, Anais continua dormindo, quando ouve um barulho estranho. Ao se levantar, bem ali no meio do quarto, bem mal-iluminado pela única janela dele, ela vê uma figura um tanto quanto difícil de se descrever. Era como se fosse uma pessoa normal, coberta por um manto preto, mas com bizarros olhos brancos. Obviamente amedrontada demais para sequer pensar em gritar, ela só gritou quando sentiu a mão da coisa tocar em sua perna. O grito dela ecoou por toda a pousada, onde, no saguão, os Wattersons são acordados.
Logo eles correm em direção ao quarto. A sombra, ao ouvir o barulho dos Wattersons subindo apressadamente pela escada de madeira, salta pela janela, provavelmente o mesmo lugar por onde ela entrou. Ao entrarem no quarto, Anais conta o que tinha acontecido. Nicole acha que ela deve ter tido um pesadelo, causado pela doença dela. Anais manda que olhem pela janela, mas tudo que se vê é uma rua vazia. Nenhum sinal de um homem vestindo um manto preto. De qualquer forma, todos acham que ela precisa de um médico urgentemente. Eles procuram pela atendente, mas ela não foi achada em nenhum ponto da pousada. Eles decidem sair e procurar por conta própria pelo hospital. A essa hora, o desenho já parece ter perdido a nuance cômica, se concentrando mais no lado sério da história. Eles procuram por toda a cidade, o que é um tanto fácil, visto que ela é minúscula.
Gumball e Darwin acabam achando o tal “hospital”, a maior estrutura da cidade, mas ainda assim também era minúsculo. Eles resolvem entrar, mas eles se deparam com uma cena estranha. Apesar de todas as luzes estarem acesas, não há ninguém no saguão principal. Nenhum médico, nenhum paciente, nenhum recepcionista. De repente, um doutor aparece no saguão. Gumball rapidamente pergunta o que houve com o hospital, e o médico fala que ele costuma ficar assim de vez em quando, visto que a cidade quase não tem moradores. Mesmo que isso não tenha sido uma resposta que tirou todas as dúvidas dele, ele leva Anais para lá de qualquer jeito, afinal, mesmo sendo um hospital muito estranho, é o único hospital na cidade. O médico observa Anais (a família toda já está lá), e diz que ela precisará ser internada por um dia. “Para evitar qualquer uma das inúmeras complicações que essa doença pode trazer”, diz ele. Ele também garante aos Wattersons que ela ficará bem, pois eles tem todos os equipamentos que precisam pra tratar da doença. Eles queriam passar a noite lá, ao lado de Anais, mas o doutor fala que infelizmente o hospital não tem instalação suficiente para suportar “tanta gente”.
Basicamente, na sala onde Anais ficaria internada, só há espaço para o paciente e o doutor. Mesmo todos concordando em, nesse caso, passar a noite no saguão, o médico diz que outras pessoas poderiam vir ao hospital, e seria antiético mantê-los ali. Com muito desconforto, os Wattersons voltam para a pousada.Não havia muito mais o que fazer, pois Anais teria que ser tratada de alguma maneira. E já que era o único hospital da única cidade em provavelmente um raio de quilômetros de extensão, era o máximo que podia ser feito. De volta à pousada, a atendente continua desaparecida. Agora que Anais já está no hospital, eles têm mais tempo para procurar com mais atenção onde ela foi parar. Saguão; nada. Quarto; nada. Sótão; nada.
De repente Nicole à encontra no banheiro. Ela havia sido assassinada. Se por um lado, não era uma dessas cenas de “assassinatos graficamente brutais” típicos de episódios perdidos, mas também não era uma cena à ser mostrada em um programa assistido por crianças. Não havia “tripas escorrendo pelo chão, o um olho foi arrancado e arremessado contra a parede”. Mas havia muito sangue. Muito mesmo. Foi o suficiente para assustar os Wattersons. Aterrorizados, eles voltam para o hospital, para pegar Anais. Aquela cidade era um perigo para eles. Ao chegar no hospital, mesma cena de antes: luzes acesas, ar-condicionado ligado, sala vazia. Sem-nem se preocupar em chamar o doutor, eles correm dentro do corredor que era apontado como sendo “triagem”. Finalmente eles chegam até a única sala de internação.
A sala estava em condições precárias. Quer dizer, não havia rombos nas paredes, nem baratas andando pelo chão, como uma boa sala de hospital público do Brasil. Mas também, não havia quase nenhum aparelho. Só havia aquele pedestal de metal aonde se prende o soro fisiológico ou sangue. Mas em uma coisa o médico acertou: só havia espaço para um paciente e um doutor naquela sala. Extremamente nervosos, os Wattersons começam a procurar freneticamente por todo o hospital. Richard ouve um barulho estranho vindo de trás de uma porta que não tinha nenhuma placa de identificação. Ao entrarem por ela, os quatro descem uma escada até onde parece ser o porão do hospital. Lá eles encontram a cena. O doutor jazia morto à facadas no chão, em uma morte bem parecida à da velhinha.
Também havia outro homem (eu esqueci de mencionar, o doutor também era humano, só tem humano nessa cidade). A princípio não se conhecia ele, mas uma certa vestimenta que ele segurava na mão acusava que ele é quem tinha tentado raptar Anais. Mas o principal estava no centro do porão. Deitada sobre uma espécie de maca, e presa à amarras, estava Anais vestindo um desses aventais finos comuns nos hospitais. Sua boca estava amordaçada por um lenço, e ao redor dela se encontravam umas 3 pessoas, todas trajando os macacões utilizados por infectologistas com máscaras de gás, botas e luvas vedadas. Um deles, provavelmente o líder, apontava uma arma à cabeça da pobrezinha. Eles estavam prontos à matar Anais, mas foram impedidos pelo susto que a entrada dos Wattersons causou neles. Nicole, horrorizada pergunta que diabos eles faziam.
O líder conta que eles iriam matar Anais. Porque ela apresentava uma doença contagiosa, à qual ninguém na cidade era imune. Na verdade é biologia básica: ao longo do tempo, as pessoas vão se adaptando à doenças, e passam tais características à próxima geração. O mundo civilizado estava composto por pessoas que receberam essa característica de reconhecimento dessa doença específica e, embora ainda apresentassem sintomas, ela agiria muito mais branda. Só que falávamos do mundo civilizado, mundo com o qual aquela cidade evita contato à tempos. Portanto aquela doença era letal para seus habitantes. E com Anais carregando o vírus por aquela cidade, todas as pessoas estavam em risco.
A melhor maneira seria matar qualquer um que mantivesse contato com Anais, sem-nenhuma proteção. Era o caso da velhinha, do doutor que na verdade, até sabia do plano de sequestrar Anais, mas aceitou “morrer por sua cidade” e do sequestrador. Os carrascos estavam vestindo o macacão especial, portanto eles estavam limpos. Claro, não só Anais deveria morrer, como todos os Wattersons. Nicole lembra à eles que estão sendo muito radicais e certamente irracionais. O líder mostra um álbum contendo fotos de todos os habitantes da cidade, crianças estão entre-eles.
A doença de Anais poderia matar todos eles. Segundo o líder, a vida de uma pessoa não vale a vida de tantas outras. Na verdade, faz sentido: valia a pena salvar uma pessoa arriscando a vida de tantas outras? Com a morte de Anais, é garantido a segurança de toda uma cidade. Mas os Wattersons ainda assim queriam salvá-la (não foi necessariamente uma decisão egoísta, você deixaria morrer sua filha de 4 anos, para salvar pessoas que nem conhece, portanto sem poder saber se são ou não honestas - e merecedoras de tal atitude?)
Mas a sorte estava do lado deles. Um deles descobre que havia um buraco em seu macacão. Sua segurança foi violada, agora ele era um possível infectado. Em meio a essa confusão, Nicole aproveita e imobiliza um dos médicos, Richard cai em cima do outro, Gumball e Darwin libertam Anais, e o outro médico simplesmente correu pra fora do porão. Os Wattersons fazem o mesmo. Eles vão até o carro deles, que ainda tinha combustível, nem pegam as coisas dentro da pousada, e dão no pé. Eventualmente eles chegam à uma cidade (de verdade dessa vez). Animados pelo inferno finalmente ter acabado, e Anais estar de volta com eles, eles se abraçam. Temos uma família unida, de novo. Anais, porém, não deixa de se sentir mal por quase ter tirado a vida de uma cidade inteira.
No entanto, Gumball lembra ela de que todas as pessoas com quem ela entrou em contato morreram. Exceto o médico covarde, mas Darwin garante que ele iria se matar, sabendo que estava infectado. Ele faria a mesma coisa que o doutor que atendeu eles no hospital - ele se mataria em nome de sua cidade. Anais mais uma vez abraça sua família, e assim o episódio acaba. Os créditos passariam agora. Mas havia uma anotação de uma cena que apareceria ao término dos créditos. Nesta cena, vemos a cidade. Muitas macas são vistas nas ruas, todas carregam pacientes agonizando.
A câmera vai rodando pelo cenário, e além das macas, vemos também corpos sendo queimados, pessoas lamentando a morte de seus entes queridos… a cidade toda foi contaminada.
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